Nosso plano era deixar o semi-árido do Karoo em direção à área mais verde da África do Sul e mais importante destino turístico do país, depois de Capetown e do Kruger Park: a Garden Route. Mas nossa viagem seria bem menos prazerosa do que imaginamos.
Lembram-se que Carla e eu tivemos o primeiro dia em que fizemos exatamente as mesmas refeições? Pois é, alguma delas (e jamais saberemos exatamente qual) nos fez acordar muitas vezes durante a noite para visitas a um cômodo específico da pousada onde estávamos, e fez ainda com que acordássemos com um mal estar horroroso e com sensação de febre.

Encontramos um no outro as forças para seguir com nosso plano, visitar o Vale da Desolação (Desolation Valey) e a reserva adjacente para ver nossos últimos bichinhos em seu ambiente natural.
Karoo + Garden Route + Capetown 092 Karoo + Garden Route + Capetown 099 Karoo + Garden Route + Capetown 124 Karoo + Garden Route Ruba 105 Karoo + Garden Route Ruba 107 Karoo + Garden Route Ruba 138 Karoo + Garden Route Ruba 122 Karoo + Garden Route Ruba 116

De lá, ainda com náuseas e dores, resolvemos não esmorecer e encarar os quase quatrocentos quilômetros até Knysna, nosso primeiro destino na Garden Route. A estrada é muito bonita, pois começamos no semi-árido e depois chegamos às montanhas que seguram toda a umidade na costa. A transição dos tons de bege para os de verde é bastante abrupta e só a estrada em si é um show à parte.
Karoo + Garden Route Ruba 144

A Garden Route (ou Rota dos Jardins), nada mais é do que um trecho da costa sul da África do Sul, a aproximadamente 300km de Capetown, onde existem várias cidadezinhas costeiras que devotam suas atividades quase que exclusivamente ao turismo.

Knysna talvez seja a mais famosa delas, tanto que não conseguimos encontrar lugar para ficar em nenhuma das opções que apareciam nos nossos vários guias (há dois que são distribuídos de graça nos albergues e pousadas, o Alternative Route e o Coast to Coast que têm se provado bastante úteis). Encontramos acomodação então em Plettensberg Bay, onde iríamos pela primeira vez desde Moçambique dormir duas noites no mesmo lugar.

Plett é um destino clássico para os que se formam no colegial ou na faculdade, então está forrado de jovens adultos querendo se divertir, especialmente nessa época do ano, o que dá uma atmosfera bem bacana para a cidade, onde pudemos aproveitar uma das coisas que mais gostamos: a praia.
Karoo + Garden Route Ruba 227 Karoo + Garden Route + Capetown 195 Karoo + Garden Route + Capetown 193  Karoo + Garden Route + Capetown 176 Karoo + Garden Route + Capetown 159 Karoo + Garden Route + Capetown 152

Quer dizer, aproveitar as praias é um tanto relativo por três motivos:

1) O mar é bastante frio, então entrar na água se resume a momentos de muito calor ou para aqueles outros momentos que sabemos bem qual é. Deu até saudades das águas “quentes” de Florianópolis.

2) Não se pode tomar bebidas alcoólicas na praia. Quer dizer, a gente levou uma geladeirinha com cervejas e tomou mesmo assim, pelo menos até um policial dar uma bronca na gente. Por sinal, uma efeito curioso ficou claro. O público das praias muda conforme o horário. Durante a manhã, estávamos cercados majoritariamente por loiros. Conforme o maio da tarde vai se aproximando, os brancos começam a ir embora e a quantidade de negros aumenta bastante (parece que mesmo com o fim do apartheid eles não são muito chegados a se misturar mesmo). E é nesse momento que a “polícia” que checa se as pessoas estão bebendo se faz mais presente, talvez pelo fato de alcoolismo ser um problema bastante grave na áfrica do Sul, especialmente entre a população negra.

3) A área em que a gente pode efetivamente entrar no mar é delimitada por bandeiras. Quando fui perguntar para a salva-vidas (uma loirinha que deveria ter no máximo 18 anos) se era por causa das correntes ou algo assim, a resposta foi clara: “Essa é a área em que você deve nadar se não quiser ser comido por tubarões brancos”. Sim! A área da Garden Route inclusive é famosa pelos passeios em que você pode entrar em uma jaula e ser arremessado em meio aos tubarões brancos, entre outros tubarões, que mordem a grade e tudo. Carla e eu, por alguma razão, não conseguimos encaixar esse passeio em nosso programa, mas não foi por medo!

À noite, resolvemos nos juntar aos outros turistas do nosso albergue para o tradicional braai sul-africano, um churrasco coletivo, todo mundo colocando suas carnes na mesma grelha e batendo papo ao redor do fogo. É verdade que as pessoas riram um pouco do fato de a gente ter colocado vegetais inteiros e uma banana na grelha, mas nós também rimos das espigas de milho inteiras que eles colocavam. E os que provaram a banana com canela e açúcar adoraram!

Karoo + Garden Route + Capetown 200

Na manhã seguinte, o lindo sol havia ido embora, então aproveitamos a manhã nublada para tomar coquetéis na beira da água em Knysna, onde além de uma reserva florestal e várias atividades de ecoturismo, há uma ilha em uma laguna com casinhas de madeira, lojas, restaurantes e muitos barcos. O cenário era muito diferente do que esperávamos do continente africano, e remetia muito mais à costa leste dos Estados Unidos.
Karoo + Garden Route Ruba 192 Karoo + Garden Route Ruba 191 Karoo + Garden Route Ruba 190 Karoo + Garden Route Ruba 184 Karoo + Garden Route + Capetown 221 Karoo + Garden Route + Capetown 218 Karoo + Garden Route + Capetown 214 Karoo + Garden Route + Capetown 209

Dirigimos então para Mossel Bay, onde passaríamos a próxima noite. O sol havia voltado, e até arriscamos uma praia, mas o vento estava muito forte, então nos contentamos com comer frutos do mar e beber vinho enquanto olhávamos uma piscina natural, as pessoas passando e os bravos (pelo frio e pelos tubarões, surfistas que tentavam pegar uma onda.
Karoo + Garden Route + Capetown 235 Karoo + Garden Route + Capetown 233

Acordamos cedo para cruzar as montanhas de novo, no sentido contrário, e chegar a Oudtshoorn, que era conhecida como a capital do comércio de penas de avestruz no início do século XX e que também possui muitas atrações para nós, turistas.

Nosso primeiro passeio foi pelas Cango Caves, uma caverna onde possuímos duas opções de tour: o Standard, que visita apenas as galerias amplas (indicado para pessoas com claustrofobia) e a de aventura, que inclui se espremer por passagens muito estreitas que chegam a ter apenas 25 cm. Esse mural na porta dá bem a dimensão do que é o tamanho de uma pessoa e o tamanho da passagem.

Karoo + Garden Route Ruba 233 Karoo + Garden Route Ruba 232

Claro que eu escolhi a de aventura. Carla, mais prudente e com receio de descobrir ter claustrofobia, escolheu o passeio mais light, o que fez com que nos separássemos, mas ainda assim aproveitamos a beleza do lugar. A caverna é extensivamente utilizada poara turismo. Nas galerias mais amplas, o chão é inclusive calçado, e a farta iluminação permite com que tenhamos uma visão bem interessante de todas as estalagmites e estalactites.
Karoo + Garden Route Ruba 337 Karoo + Garden Route Ruba 281 Karoo + Garden Route Ruba 273 Karoo + Garden Route + Capetown 299 Karoo + Garden Route Ruba 248 Karoo + Garden Route + Capetown 289

A parte de aventura realmente é um pouco puxada. Tive que me espremer bastante para entrar nos buracos diminutos, mas só passar pela experiência de deslizar nas aberturas mínimas e ter que rastejar ao invés de andar já me deixou sorrindo de orelha a orelha.
Karoo + Garden Route Ruba 321 Karoo + Garden Route Ruba 314 Karoo + Garden Route Ruba 312 Karoo + Garden Route Ruba 295

De lá, fomos para o Cango Wildlife Ranch, uma espécie de centro de conservação de guepardos (ou cheetahs) e que também faz as vezes de zoológico. É pequeno, mas o interessante foi a possibilidade que eles dão (mediante pagamento extra, claro) de entrar nas jaulas de alguns dos animais.
Antes do nosso contato com os bichos, porém, uma paradinha para comer espetinhos de crocodilo e avestruz.
Karoo + Garden Route + Capetown 321

Para visitar, e não comer, nossa primeira escolha foi, obviamente, o guepardo. Ele estava com um pouco de preguiça de interagir, e basicamente só ficou ali olhando com cara de tédio, e ainda tirou uma soneca. Depois que saímos da jaula, ele até se dignou a levantar, mas enquanto estávamos ali dentro ele apenas se deixou acariciar e ronronou. Mas gatos são assim, mesmo, voluntariosos e lindos, não importa o tamanho.

Karoo + Garden Route Ruba 394 Karoo + Garden Route Ruba 389 Karoo + Garden Route Ruba 376 Karoo + Garden Route Ruba 371

Nos divertimos bastante com os sapecas lêmures, que, mal havíamos entrado, já estavam subindo nos nossos ombros e interagindo com a gente, muito curiosos e interessados nos pedacinhos de maçã que nosso guias levavam. Eles são bichinhos muito estranhos, primatas com uma cara que parece de cachorro, olhos de louco e patas extremamente macias.
Karoo + Garden Route Ruba 459 Karoo + Garden Route Ruba 452 Karoo + Garden Route Ruba 451 Karoo + Garden Route Ruba 445 Karoo + Garden Route Ruba 434 Karoo + Garden Route Ruba 430 Karoo + Garden Route Ruba 425 Karoo + Garden Route Ruba 460

Visitamos também o serval, um outro felino, mais ou menos do tamanho de uma jaguatirica, que estava menos blasé e mais participativo do que o guepardo.
Karoo + Garden Route Ruba 497 Karoo + Garden Route Ruba 495 Karoo + Garden Route Ruba 493 Karoo + Garden Route Ruba 480

De lambuja, nossos guias, que amam o Brasil, deixaram a gente passar a mão rapidinho no filhote de tigre e tiraram fotos do filhote de caracal que estava por ali também.
Karoo + Garden Route Ruba 528 Karoo + Garden Route Ruba 527 Karoo + Garden Route Ruba 418 Karoo + Garden Route Ruba 402

Demos sorte também quando fomos ver os crocodilos, pois este centro recebe voluntários, e pudemos acompanhar o instrutor dos voluntários ensinando como alimentar esses bichões pré-históricos de forma a garantir que todos comam, e acabamos aprendendo os nomes e a personalidade de alguns deles. O grandão, por exemplo, é o Bob.
Karoo + Garden Route Ruba 585 Karoo + Garden Route Ruba 569 Karoo + Garden Route Ruba 544Karoo + Garden Route Ruba 575

Passeando pelo minizoo, pudemos ver vários animais, alhguns muito fofos, como o suricate, e outros muito feios, como o marabu ali embaixo.

Karoo + Garden Route Ruba 659 Karoo + Garden Route Ruba 646 Karoo + Garden Route Ruba 637 Karoo + Garden Route Ruba 622Karoo + Garden Route Ruba 634 Karoo + Garden Route Ruba 673

No dia seguinte, antes de colocarmos o pé na estrada para a Cidade do Cabo, visitamos uma fazenda de avestruzes, onde além de informações (não muita, é verdade) sobre esses bichões, pudemos montar em um.
Karoo + Garden Route Ruba 697 Karoo + Garden Route Ruba 701 Karoo + Garden Route Ruba 693 Karoo + Garden Route Ruba 726 Karoo + Garden Route Ruba 720 Karoo + Garden Route Ruba 719 Karoo + Garden Route + Capetown 434 Karoo + Garden Route + Capetown 433

Agora, depois de tanta coisa em tão pouco tempo, só nos restava nosso último destino, a capital turística da África do Sul. Nossas expectativas e planos para Capetown eram grandes. A gente conta no próximo post.

Você Sabia?

Os guepardos, ou cheetas, têm na velocidade sua principal arma para caçar suas presas. Eles conseguem atingir velocidades de até 100km/h em três segundos (uma performance de fazer inveja aos pilotos de fórmula 1). As adaptações e especialização para atingir velocidades tão extremas, entretanto, têm seu preço. É comum ver os guepardos perdendo seu jantar para hienas, leões e outros predadores simplesmente porque eles não podem arriscar sofrer ferimentos que fariam com que perdessem velocidade.

Teste seu Conhecimento:

Os lêmures com os quais brincamos não são animais endêmicos da África do Sul. Todas as mais de 80 espécies deste animal vivem em um mesmo lugar. Onde?

a) Austrália;
b) Nova Zelândia;
c) Madagascar;
d) Quênia;
e) Sri Lanka.

Resposta do Post Anterior:

Acertou quem disse Zulu e Xhosa, que são as línguas maternas de 22% e 16% da população da África do Sul, respectivamente. Todos os sul-africanos devem estudar inglês, africâner e uma língua negra nas escolas.

Iniciamos o ano já em ritmo frenético. Logo nos primeiros dias, nosso papel com a versão impressa de nosso roteiro original, com datas e horários de partida e chegada, passou a ser útil apenas como marcador de página! Em rumo ao desconhecido íamos nós.
Nos próximos três dias, nossa rotina se tornou acordar, dirigir trezentos e tantos quilômetros, achar lugar para dormir e jantar, dormir, acordar e começar tudo de novo.

Seguimos a rota sugerida pelo dono do albergue onde ficamos, contornando Lesoto pelo leste e norte até chegarmos a uma pequena cidade chamada Clarens, que fica ao lado de outro parque nacional, o Golden Gate Park.

A cidadezinha, incrustada entre montanhas na região com a maior altitude da África do Sul, parece tudo, menos África. O clima mais ameno, as construções com inspiração europeia e a presença quase exclusiva dos cabelos loiros dos Afrikaans (brancos de ascendência holandesa) faziam parecer que estávamos em alguma cidadezinha de montanha na Alemanha.

Canyon + Highlands Ruba 317 Canyon + Highlands Ruba 323 Canyon + Highlands Ruba 321 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 318 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 320 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 323

Clarens é uma belezinha. Tudo fecha antes das sete da noite (com a exceção de um restaurante, onde comemos, para variar, uma deliciosa comida que custou super pouco), crianças andam descalças na rua e há até um estacionamento para cavalos (também conhecido como uma árvore com uma plaquinha dizendo “estacionamento para cavalos”). A atmosfera bucólica foi perfeita para descansarmos depois do agito do ano novo, e é perfeita também para os inúmeros aposentados que vivem ali e para as famílias loiras que vão passar o final de semana longe das atribulações de Durban e Bloemfontein (duas das cinco maiores cidades do país, ambas a menos de quatro horas de viagem dali).

Achar um lugar para ficar não foi fácil, já que estávamos no auge da temporada turística, mas, graças a um cancelamento, encontramos um quarto na adorável pensão de um senhorzinho que nos recebeu à porta e mostrou os quartos, em maio a um impecável jardim. Tudo muito bonitinho, muito casa do vovô. Um aconchego que nos fez sentir perfeitamente acolhidos (e uma cama gigantesca que nos acolhia mais ainda).
Canyon + Highlands Ruba 307 Canyon + Highlands Ruba 306 Canyon + Highlands Ruba 309 Canyon + Highlands Ruba 310

Até cogitamos ficar mais uma noite, mas a notícia de que não haveria disponibilidade dos quartos, já que outros hóspedes chegariam, nos fez deixar a casa do vovozinho, e Clarens, com um gostinho de quero mais.

Resolvemos não procurar outra acomodação, mas partir logo para visitar o parque Golden Gate e suas lindas montanhas e simpáticos blesboks e springboks. Mas a fauna não chamou tanto a atenção como as formações rochosas do lugar.

Um espetáculo!
Mozambique + Canyon + Highlands Carla 359 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 352 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 347 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 354 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 377 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 370 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 338 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 329 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 289 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 287 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 282 Canyon + Highlands Ruba 350 Canyon + Highlands Ruba 375 Canyon + Highlands Ruba 337

Depois de dirigirmos mais uns trezentos e tantos quilômetros, chegamos a Aliwal North, uma outra cidadezinha, já numa área um pouco mais árida cortada pelo rio Orange, onde nossos planos eram relaxar em um spa de águas termais que foi muito popular no início do século passado.

Antes de chegar lá, entretanto, tivemos que lidar com duas coisas que, combinadas, transformaram a viagem, que tinha tudo para ser entediante, em uma aventura inesquecível.

Tudo começou com um vento lateral que empurrava nosso microcarro para a esquerda e fez com que a Carla cansasse o braço para mantê-lo na pista. Quando havíamos trocado de posição, começaram os buracos! Pela primeira vez nos já mais de 4000km que havíamos rodado, nos deparamos com uma estrada mal conservada.

Mas não eram apenas buracos…eram crateras. Olha só:

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 386Mozambique + Canyon + Highlands Carla 389

Enquanto eu usava todas as habilidades de desviar de coisas adquiridas jogando Mario Kart, vimos que uma nuvem, estranhamente baixa, se aproximava de nós com uma velocidade esquisita.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 392 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 402
Em meio a desviar de buracos, segurar o carro na estrada e não derrapar para fora da pista, tentamos gravar o episódio para a posteridade. O que vocês vão ver no vídeo pode não parecer assustador, já que as imagens não transmitem o pânico. Mas nossas vozes devem dar conta do recado.
https://www.youtube.com/watch?v=tIDA4Fy8VXI&feature=youtu.be

Mas passamos pela tempestade bizarra vivos, bem, e sem pneus furados (e olha que passamos por muita gente que não conseguiu desviar dos buracos e ficou pelo meio da estrada), sendo brindados com um lindo arco-íris no final.
Mozambique + Canyon + Highlands Carla 411 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 414

Encontramos uma pousadinha em Aliwal North, fomos comer no único restaurante decente da cidade (que é bem menos agradável que a anterior), à beira do Rio Orange e com cabeças empalhadas de vários dos animais que havíamos visto pelos campos (cujos olhos de vidro nos encarando sempre me causaram uma sensação muito estranha, por sinal).

Acordamos cedo e super bem dispostos a passar toda a manhã relaxando nas piscinas de água quente depois de um café da manhã no mesmo restaurante.

Pura ilusão!

Tínhamos lido no guia que as termas haviam sido muito populares no início do século XX, mas que já não possuem o mesmo glamour de outrora e pensamos: “Ah! Deve estar meio caidinha”. O que o guia queria dizer, na verdade (acho que vamos ter que escrever para o Lonely Planet reclamando de algumas descrições demasiado eufemísticas) é que hoje em dia não existe nada lá, já que as piscinas de água quente cobertas estão fechadas há alguns anos para reforma e que as piscinas a céu aberto estão imundas, num “clube” que não recebe manutenção desde a época em que era popular, no início do século passado.
Veja bem, não é que o lugar fosse rústico. Adoro rusticidade, ele estava abandonado! Nem eu que não sou muito de frescuras topei entrar na água!
Karoo + Garden Route + Capetown 018 Karoo + Garden Route + Capetown 012

Partimos então para mais uns trezentos e tantos quilômetros para chegar em outra cidadezinha, Graaf-Reinit (que não se pronuncia da forma que a gente lê, e cuja pronúncia nem nós conseguimos reproduzir sem provocar risadas nos locais), com uma parada em Nieu Bethesda, um vilarejo perdido no meio do deserto.

O guia dizia que para se chegar a Nieu Bethesda teríamos que encarar um trecho de 30 quilômetros de estrada de terra. A estrada estava em relativamente boas condições, então nem reclamamos muito. A chegada, porém, foi uma visão linda!

Estávamos dirigindo em uma área muito seca, o Pequeno Karoo (Kleine Karoo), que é uma região semiárida e montanhosa, sob um sol de rachar. Subimos uma montanha e, ao fazer a curva, nos deparamos com um pequeno vilarejo em um vale verde. Um verdadeiro oásis!

Karoo + Garden Route Ruba 016 Karoo + Garden Route Ruba 033

Encontramos um lugar agradabilíssimo para almoçar, nos limites do vilarejo, na sombra das árvores, e resolvemos comer o mesmo prato, uma pasta leve acompanhada de uma salada para não ficarmos estufados no calor escaldante que fazia.
Karoo + Garden Route + Capetown 051 Karoo + Garden Route + Capetown 053 Karoo + Garden Route + Capetown 057 Karoo + Garden Route Ruba 036 Karoo + Garden Route Ruba 042 Karoo + Garden Route Ruba 047

O grande atrativo do vilarejo, além de seu isolamento e calma, é a Owl House, a antiga casa de uma artista plástica chamada Helen Martins.

A história dela é muito curiosa. Depois de passar pelo segundo divórcio, ela se mudou para este vilarejo para cuidar se seu pai doente, um homem pouco afetivo e castrador. Depois da morte do pai, passou a levar uma vida de reclusão em sua casa, de onde raramente saía e a idealizar esculturas e mosaicos em vidro, que eram realizados não por ela, mas por seu ajudante, um negro que ela contratou para dar forma às suas ideias e acabou se tornando uma das poucas pessoas com quem ela tinha algum contato.

O resultado é uma casa bizarra, recheada de mosaicos e vidros coloridos e um jardim atulhado de esculturas, que acabou se tornando um importante elemento da arte e folclore da África do Sul. A casa é vista por alguns como uma manifestação exterior do interior conturbado da artista, que, à semelhança de Portinari, tornou-se vítima de sua própria arte, perdendo a visão em decorrência do frequente contato com o pó de vidro. Helen acabou se suicidando, mas sua casa tornou-se um museu, e leva muitos sul-africanos àquele vilarejo perdido. Tanto que, descobrimos na volta, existe uma linda e perfeita estrada de asfalto (que não constava no guia) para se chegar lá. Ou seja, a uma hora que passamos sacolejando dentro do carro poderia ter sido substituída por 15 muito mais confortáveis minutos!
Karoo + Garden Route Ruba 080 Karoo + Garden Route Ruba 076 Karoo + Garden Route Ruba 071 Karoo + Garden Route Ruba 057 Karoo + Garden Route Ruba 054 Karoo + Garden Route Ruba 044 Karoo + Garden Route + Capetown 066 Karoo + Garden Route + Capetown 059

De lá, fomos para Graaf-Reinit, onde nos acomodarmos em uma pensão que é, na verdade, a casa de uma senhorinha extremamente simpática, com direito a fotos da família por todo lado e diplomas na parede.
Decidimos caminhar pela agradabilíssima cidadezinha colonial até encontrarmos um restaurante para jantarmos. Encontramos o Polka, que é fenomenal, e por lá ficamos em uma mesa no jardim, tomando vinho e dividindo porções de lula frita e pizzas.

Essas três refeições idênticas que fizemos, porém, nos fariam pagar um preço bastante alto, que a gente conta no próximo post.

Você Sabia?

A província Free State, onde nos encontrávamos quando fomos surpreendidos pela tempestade, é uma região propensa à formação de um tipo de tempestade chamado “Supercélula” (Supercell, em inglês). Estas tempestades são caracterizadas por um vento ascendente no interior da nuvem, que gira enquanto sobe. É neste tipo de tempestade, bastante comuns no interior dos Estados Unidos e em algumas regiões da África do Sul, que os tornados se formam. No ano passado, por exemplo, a cidade de Ficksburg, onde havíamos parado para almoçar imediatamente antes da tempestade, foi atingida por um tornado de categoria F2, que causou a destruição de muitas casas nas áreas mais pobres.

Teste seu Conhecimento:

Afrikaans, ou africâner, é uma das 11 línguas oficiais da África do Sul. Ela normalmente é associada aos brancos de origem holandesa, mas é uma das línguas mais faladas, mesmo pela população negra. Todos os estudantes na África do Sul têm que estudar africâner, inglês e uma das línguas negras na escola. O Inglês, entretanto, é a quarta língua mais falada como língua materna (por 9,6% da população), enquanto africâner é a terceira (14%). Quais são as línguas mais faladas em casa pelos sul-africanos?
a) Swazi e Sotho
b) Zulu e Sotho
c) Zulu e Xhosa
d) Tswana e Xhosa
e) Venda e Tsonga

Resposta do Post Anterior:

O Maior e mais importante rio da África do Sul é o Orange, que nasce nas montanhas de Lesotho (um reino independente cercado pela África do Sul por todos os lados) e atravessa o país em direção ao Oceano Atlântico, passando por muitas áreas áridas e sendo, consequentemente, fundamental para a irrigação e também para a produção de energia elétrica. Seu nome, no entanto, não tem nada a ver com a cor, mas sim em homenagem à família real holandesa, os Orange-Nassau.

Logo ali ao lado do Kruger Park, está uma das paisagens mais fotografadas e admiradas da África do Sul, o Blyde River Canyon. Tínhamos tentando passar por lá, mas uma neblina impenetrável nos fez mudar os planos. Eis o que a gente não perdeu.

O Blyde River Canyon é um dos maiores cânions do mundo, e é considerado o maior cânion verde do planeta, em razão da vegetação que o cobre, ao contrário de outros em ambientes desérticos, como o Grand Canyon.

Todas as atrações estão logo na beira da estrada chamada de Panorama Route, em um trecho de uns cem quilômetros de estrada.

Antes da sair, entretanto, tivemos que lidar com um prego que havia se alojado no nosso pneu ainda em Moçambique. Como estávamos com medo de não chegar no posto de fronteira, resolvemos não tocar nele até estarmos na África do Sul, mas como ainda tínhamos muitos quilômetros pela frente, achamos melhor não arriscar mais tempo. O conserto foi feito em 5 minutos em um posto, onde o frentista retirou o pequeno prego que vocês podem ver abaixo e preencheu o buraco com uma borracha que mais parecia um chiclete, garantindo que aguentaria a viagem. A gente não acreditou muito, mas tampouco se mobilizou para buscar outra solução, afinal, temos que correr.

Canyon + Highlands Ruba 015Mozambique + Canyon + Highlands Carla 162

Mas voltando ao passeio, a primeira parada foi Mac-Mac Falls, uma cachoeira de 65 metros.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 172Mozambique + Canyon + Highlands Carla 169

A poucos quilômetros dali, passamos pelo The Pinnacle, uma protuberância de rocha na região onde o planalto chamado de Highveld e a área mais baixa, o Lowveld, se encontram.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 183 Canyon + Highlands Ruba 055 Canyon + Highlands Ruba 051 Canyon + Highlands Ruba 049                                                   Canyon + Highlands Ruba 043

Esse mesmo encontro entre as duas áreas de diferença de altitude tão significativa é o que faz a vista do God’s Window tão bonita.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 187 Canyon + Highlands Ruba 066 Canyon + Highlands Ruba 062 Canyon + Highlands Ruba 059

Seguimos pelas belas, extremamente bem conservadas estradas, onde, em maio a tantas coisas bonitas, uma das que nos mais chamou a atenção foram a enorme quantidade de borboletas brancas pela estrada. Elas estavam por todos os lados e davam uma atmosfera realmente mágica à viagem.

Por elas serem tão pequenas, não conseguimos nenhuma foto com elas no ar, mas consegui este close-up:

Canyon + Highlands Ruba 064

E também este, de uma das várias que não desviaram de nosso potente minicarro a tempo:

Canyon + Highlands Ruba 116

Próxima parada, Lisbon Falls:

Canyon + Highlands Ruba 084 Canyon + Highlands Ruba 093

Na verdade, estas formações que vimos até agora, não fazem parte do cânion do rio Blyde per se, mas acabam se encaixando no mesmo grupo por questões logísticas de turismo, já que estão tão próximas a ele.

As primeiras formações que vimos que fazem parte efetivamente do cânion foram os Bourke’s Luck Potholes, umas formações no encontro dos rios Blyde e Treur causadas pela erosão da água e outros sedimentos na rocha por onde passaram por milhões e milhões de anos (como a Carla diz que eu gosto de falar). O resultado é muito interessante, e o preço para entrar aqui (25 rands, ou 6 reais) vale também para a próxima parada e outras atrações do parque nacional Blyde River Canyon, que acabamos não vendo por questões de tempo.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 220 Canyon + Highlands Ruba 165

Mas foi em Three Rondavels, onde a gente pode ter uma noção clara das dimensões do cânion. Rondavels são umas cabanas típicas desta região da África, com formato oval e teto de palha. Assim, ó:

Canyon + Highlands Ruba 227

Three Rondavels tem esse nome por causa de três formações geológicas que têm mais ou menos o mesmo formato. Assim, ó:

Canyon + Highlands Ruba 183

Vistas fantásticas, que não cabem na foto.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 239 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 237 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 234 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 231 Canyon + Highlands Ruba 192 Canyon + Highlands Ruba 189 Canyon + Highlands Ruba 180

Depois, já no final do dia, uma decepção. Dirigimos uns 50km para conhecer Jessica, um hipopótamo que a Ju e a Gabi (aquela que foi para a Ásia com a gente) tinham visitado e recomendado. Depois de a Carla dirigir vários quilômetros na estrada de terra, demos com a cara no portão. Parece que a Jessica também tinha tirado folga para o Réveillon.

Por falar em Réveillon, nossa mudança de planos, cortando o passeio por Moçambique pela metade, fez com que nos víssemos no dia 30 de dezembro sem planos para o Ano Novo.

Resolvemos passar a noite em Nelspruit, uma cidade ali perto, onde nos fartamos de comer frutos do mar em um restaurante de uma rede que está por toda parte chamada Ocean Basket. Sério! Nem demos conta do vinho e dos zilhões de frutos do mar e gastamos quase nada!

Amanhecemos no dia 31 e resolvemos partir para a praia mais próxima para o ano novo. E essa praia era Durban.

Chegamos com uma chuva torrencial depois de sete horas de estrada, mas a tempo de pegar os drinks de ano novo oferecidos pelo albergue onde estávamos, uma graça, por sinal, e conhecemos alguns outros gringos, com quem passamos a virada.

Turbinados pelo champanhe que havíamos comprado, Amarula, vinho e outras coisinhas, resolvemos ir para a Florida Road, uma rua a poucas quadras do albergue, onde estão os principais bares de Durban.

Escolhemos o bar que não cobrava entrada e ficamos dançando e interagindo com os alemães do albergue até quase de manhã, como tem que ser no Ano Novo.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 265 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 266 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 267 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 270

Como nossos planos originais já haviam ido por água abaixo, o dono do albergue nos sugeriu uma rota alternativa, onde passaríamos por muitos lugares interessantes e com paisagens variadas que os turistas estrangeiros normalmente não têm tempo, transporte ou conhecimento suficiente para visitar.

Muitas surpresas estavam por vir. Mas isso já é assunto para um outro post!

Você Sabia?

Os rios Blyde e Treur, que se encontram no Bourke’s Luck Potholes que vocês viram acima, tem seus nomes oriundos de uma mesma série de eventos. Em 1844, exploradores se dividiram naquela região. Alguns ficaram por ali enquanto outros saíram para chegar à baía de Maputo (em Mocçambique). Os que tinham ficado para trás, acreditando que o grupo de exploradores havia morrido, nomearam o rio onde eles havia acampado Treurrivier, holandês para “Rio do choro”. Quando os exploradores retornaram vivos, eles batizaram o outro rio de Blyde, ou “Feliz”. Assim, o que vimos foi o encontro do Rio Feliz com o Rio do Choro!

Teste seu Conhecimento:

O Blyde River, apesar de nos proporcionar esse espetáculo, não é o rio mais importante da África do Sul. Nesse país com uma área árida tão grande, qual o maior e mais importante rio?

a)      Zambezi

b)      Orange

c)       Congo

d)      Nilo

Resposta do Post Anterior:

Nossa colonização portuguesa não nos dá regalia alguma. O visto para brasileiros que querem entrar no Moçambique custa salgados 87 dólares!

Despertamos cedo e enquanto comíamos nosso pequeno almoço a assistir programas da TV Record (sim, eles chegaram em Moçambique assim como a TV Globo), decidimos por partir para Xai-Xai, uma municipalidade próxima à costa.

Os 200 e poucos quilômetros tornaram-se muitas horas de jornada, posto que a cada poucos quilômetros deparávamos-nos com um vilarejo e tínhamos que reduzir a velocidade a menos de 60km/h. Foi-nos impossível evitar sermos detidos por oficiais quando estávamos a conduzir nossa viatura ligeira acima do limite estabelecido. O oficial que nos aplicou a multa de 2.000 Meticais (aproximadamente 140 Reais) foi, em verdade, o Moçambicano mais amigável com a qual nos deparamos até então, e nos informou que deveríamos realizar o pagamento no Comando de Policia de Xai-Xai.

Ao chegarmos ao Complexo Halley, nossa acomodação na praia de Xai-Xai, fomos imediatamente para a praia, onde ficamos a tomar cervejas e comer camarões, como devem ser as coisas na praia.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 033 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 036 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 039 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 040 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 045 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 048  Mozambique + Canyon + Highlands Carla 053 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 056

Na verdade, ficamos um pouco decepcionados com o visual da praia em si. Não que a praia fosse feia, mas vimos a chegar a Moçambique com altíssimas expectativas em relação à beleza das praias, e Xai-Xai correspondeu apenas parcialmente a elas.

Na manha seguinte, após comer o pequeno almoço assistindo ao programa da Fátima Bernardes, voltamos à autoestrada e conduzimos por mais 70 km até chegarmos a Chindeguele, descrita pelo nosso guia como a mais bonita da região.

Claro que chegar até a praia foi por si só uma aventura, já que a única rota até ela inclui uma estrada de areia por 10 km, estrada esta não compatível com a viatura ligeira que estávamos a conduzir. Mas logramos atolar apenas uma vez, assim que chegamos a nosso destino, onde fomos ajudados por uma família de Sul-africanos.

De facto, a praia esta lindíssima, grande e relativamente intocada, com poucos turistas (todos os quais conduziam viaturas 4×4).

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 066 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 069 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 077  Mozambique + Canyon + Highlands Carla 091 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 094

Depois de passarmos o dia na praia, fizemos nosso almoço de frutos do mar pescados localmente, para a felicidade da Carla que devorou sua lagosta como alguém que não vê comida há 3 anos, e dava pulos de alegria ao descobrir que pagaria o equivalente a R$ 28 por seu prato.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 098 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 106 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 108 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 111 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 112 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 110

No mesmo restaurante, nos pusemos a conversar com um casal Sul-africano que nos contou muitas coisas interessantes sobre a cultura da África do Sul, e até certo ponto da África em geral, dando-nos muitas informações sobre a política e economia Africana. Percebemos que há muitas similaridades com a sociedade brasileira, tais como descaso com o sistema educacional público, uma acomodação dos cidadãos mais pobres devido ao grande número de ações paternalistas do governo, e uma tendência pelos indivíduos a não se importar muito com o bem comum caso seus interesses particulares estejam a ser atendidos.

Descobrimos também que não chegaríamos muito além de onde estávamos com nossa viatura ligeira, já que o acesso aos sítios mais ao norte que queríamos conhecer e onde havíamos planejado passar o ano novo, requer o uso de viaturas 4×4.

Esta foi a gota d’água! Como nada de Moçambique de facto correspondeu completamente às nossas expectativas, decidimos girar em nossos calcanhares e retornar na manha seguinte para a África do Sul, onde os sítios são acessíveis e as pessoas gentis.

Temos que dizer que encontramos várias pessoas antes e depois de irmos, que afirmam que Moçambique é um sítio maravilhoso para veranear, então não se atenham apenas à nossa opinião, que se limita a um conjunto de experiências que nós tivemos.

Claro que não foi tão simples assim, já que tivemos que passar pela mesma autoestrada vagarosa e pela mesma rua de areia assustadora em Maputo. Desta volta, entretanto, estávamos mais bem preparados psicologicamente para a empreitada, e logramos não nos desesperarmos e ainda nos pusemos a rir de toda a situação e das traquinagens de Jambulile.

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 140Mozambique + Canyon + Highlands Carla 131 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 121 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 115

Um oficial nos parou na volta também, pensando que éramos sul-africanos e logo se pôs a perguntar por um colete refletor que deveríamos ter no carro. Quando respondemos em português, ele ficou surpreso, e quando notou que não iríamos dar o suborno que, na verdade, foi o que motivou a abordagem, nos deixou ir sem multas. Mas isto acontece em qualquer lugar, não é mesmo?

O trânsito das autoestradas e os limites de velocidade fizeram com que chegássemos ao posto fronteiriço com apenas 10 minutos de folga para seu fechamento. Porém, felizmente, adentramos território sul-africano, como planejávamos. (E o sotaque português pode parar por aqui).

Chegamos à cidade de Sabie, no início da Panorama Route (aquela estrada com as vistas de cachoeiras que não pudemos aproveitar pelo mal tempo, lembram?), por volta das 20:00, e acabamos em um albergue meio estranho, com uma vibe riponga, onde fomos recebidos pelo dono do local e seus amigos. Apesar dos convites para nos juntarmos a eles em sua festinha, fomos antes procurar alguma coisa para comer, pois não comíamos desde Moçambique.

Fomos até o posto de gasolina, na esperança de comer em uma lanchonete que há em muitos postos (Whimpy é o nome), mas ela estava fechada. Já meio desconsolados, mas sem perder a esperança, Carla perguntou a um casal que estava no caixa se havia algum lugar para comer e a resposta que recebeu do homem (que parecia meio bêbado) foi: “A essa hora? Já são 9:25! Tudo está fechado!”. Detalhe: era um SÁBADO! Que tipo de cidade turística não tem NENHUMA opção de restaurante às 9:30 de um SÁBADO?!?!
Ainda bem que a mulher do casal (também meio bêbada) veio na nossa direção, limpando os farelos do croissant que ela estava devorando do queixo, e nos disse que o marido não sabia de nada e que o restaurante Woodmans estaria aberto, com certeza! Bendita mulher desconhecida!
A comida do restaurante estava simplesmente DIVINA. Comemos escargot e mariscos de entrada, e um combinado de carne de porco e camarões (dito assim parece estranho, mas estava fantástico!) que não vamos esquecer tão cedo. Tudo isso, mais uma garrafa de vinho por menos de R$ 60. Isso mesmo, R$ 60 no TOTAL. Se passarem por aqui…

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 149 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 148 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 147 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 155

Quando voltamos para o albergue, encontramos o dono e seus amigos completamente bêbados (ou algo mais), super num ritmo de festa, tocando bongôs.

Nós, cansados que estávamos, não ficamos muito. Eu joguei uma partidinha de pebolim para não dizer que não fui simpático, apenas. Fomos um pouco altinhos também para a cama.

Os planos do dia seguinte…ver tudo aquilo que São Pedro não nos deixou ver!

Você Sabia?

Apesar de possuir um dos menores índices de desenvolvimento humano e uma das menores rendas per capita do mundo, Moçambique tem estado entre os 10 maiores aumentos de PIB no mundo desde 2001. Parece que o futuro promete para eles!

Teste seu Conhecimento:

Para Brasileiros entrarem na África do Sul, não é necessário visto. E para Moçambique?
a) É necessário visto, que custa US$ 35 (como o do Camboja)
b) É necessário visto, que custa US$ 60
c) É necessário visto, que custa mais de US$ 80.
d) Somos todos descendentes de português, visto para quê?

Resposta do Post Anterior:

A resposta é “Nenhuma”. A constituição de Moçambique estipula que, apesar de apenas 6% da população falar português como língua materna, apenas o português pode ser usado como língua oficial.

Estava tudo bom e fácil demais para ser verdade, não é mesmo? A maré de sorte acabou com a chuva antes mesmo de acordarmos. Como o nosso tour a pé pelo Kruger não existiu porque não havia o número suficiente de pessoas, resolvemos partir de uma vez para o Blyde River Canyon.

E os animais não pararam de aparecer na nossa frente…só que de outro tipo!

Kruger 008 Kruger 007Kruger 006Kruger 003

A Panorama Route é  um trecho de estrada que margeia o canyon do Rio Blyde  e que possui vistas do canyon, de cachoeiras e opções de esportes radicais.

Nossa primeira parada foi o “The Big Swing” uma forma diferente de bungee-jump feita ao lado de uma cachoeira e um penhasco gigante. Tudo muito bonito, mas Carla e eu nos contentamos com a vista lá de cima.

Kruger Ruba 287 Kruger Ruba 283          Kruger 028

A chuvinha leve se transformou numa neblina intensa conforme nos aproximávamos da próxima parada, God’s Window (a janela de Deus). Carla, no seu primeiro dia dirigindo na estrada do lado errado, teve que lidar logo de cara com situações adversas, mas se saiu muitíssimo bem. Bom saber que não vou ter que dirigir 99% do tempo, como na primeira expedição CBJ.

Apesar do ar de mistério na subida e dos incontáveis degraus para se chegar a “Janela de Deus”, percebemos que a vista do Cara não é lá muito boa sempre. Dá só uma olhada:

Kruger Ruba 298 Kruger 037                           Kruger Ruba 300Kruger Ruba 299 Kruger Ruba 293

Tínhamos pela frente muitas outras paradas com vistas do canyon e cachoeiras que provavelmente estariam parecidas com essa. Então, já que a gente não pode peitar São Pedro, resolvemos desencanar, dar meia volta, e adiantar nossa ida para Moçambique.

Programamos a Jambulile, que é super globalizada e manja muito dos países fronteiriços, e nos dirigimos para encontrarmos nossos primos do lado de cá do Atlântico, ansiosos pela atmosfera acolhedora e relaxada que o guia descreve como sendo o grande atrativo de Moçambique.

Por sermos falantes de Português como eles, tínhamos a certeza de que as coisas seriam muito mais tranquilas para a gente. E ainda nos divertiríamos muito com o sotaque parecido com o de Portugal.

Estávamos redondamente enganados!

A atmosfera acolhedora começou com a oficial da imigração GRITANDO que não poderíamos tirar foto da placa que dizia “Bem-vindo a Moçambique”, seguido de uma série de caras amarradas que encontramos dali pra frente, seja em lojas, restaurantes ou hotéis. Mas nosso primeiro momento “me tira daqui!” foi em decorrência do fato que o caminho que Jambulile, esse zombeteira, nos indicou passava por um trecho de estrada de areia (com buracos e quase dunas) num contexto que deixarei para a Carla explicar:

“Quando nos aproximávamos da entrada tivemos nosso primeiro contato com a pobreza que só vemos em filmes e documentários. Logo na esquina, havia um mar de gente em meio a um mar de lixo, vendendo de tudo que você pode imaginar. Mas o que criou o pânico dentro de mim foi que ao realizarmos a curva, uma menina começou a fazer o sinal de NÃO, para que não entrássemos naquela rua. Tarde demais! Quando nos demos conta, havia carros atrás de nós e pessoas e lixo por todo o lado. Foram uns 15 minutos de puro pânico, sem saber se estávamos no lugar certo, com medo do carro atolar na areia, sem poder abrir a janela e perguntar para alguém, já que havíamos acabado de ler no guia sobre a violência e perigos que Maputo oferece.”

Mozambique + Canyon + Highlands Carla 006 Mozambique + Canyon + Highlands Carla 004 Kruger 039 Kruger 041

Mas sobrevivemos! Influenciados pelo choque inicial da miséria jogada na nossa cara e a paranoia da sessão de perigos do nosso guia, tratamos de rapidamente encontrar um hotel, o que foi mais difícil do que acreditávamos. Descobrimos que em Maputo há as coisas muito caras, e há as coisas muito ruins. Conseguimos encontrar um meio termo, um hotel chamado Hoyo-Hoyo, que era só um pouco caro, mas que era bastante ruim.

Fomos jantar na Feira Popular, que o deslumbrado autor do guia Lonely Planet descreve como tendo uma  vibrante atmosfera mediterrânea. Nós a descrevemos como um parque de diversão abandonado, com alguns “restaurantes” vazios guardados por garçons com caras de poucos amigos, em meio a uma escuridão nos pequenos becos de restaurantes fechados.

Depois de muitas tentativas, conseguimos meio sorriso amarelo da garçonete e dois pratos com comidas típicas do centro de Moçambique (Zambézia), que estavam um tanto quanto insossos.

Kruger 006 (2) Kruger 005 Kruger 003 (2) Kruger 002

Desapontados, não demoramos para ligar para o motorista (taxista) que nos havia levado lá (já que o guia alertava que era perigoso dirigir à noite) e voltamos para o hotel e dormimos relativamente cedo, na esperança de as coisas serem diferentes nas praias.

Tínhamos tido excelente referencias de Moçambique. Não seria possível que as coisas não melhorassem. Ou seria?

Você sabia?

Moçambique passou por uma horrorosa guerra civil, que durou de 1977 a 1992. O governo marxista do partido FRELIMO (Frente de Liberação de Moçambique) sofreu com a resistência dos conservadores RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana), que, com grande financiamento e apoio dos governos brancos do Zimbábue e da África do Sul, mantiveram o conflito armado que resultou na morte de mais de 1 milhão de moçambicanos e um êxodo de mais de 1.7 milhões de moçambicanos para os países vizinhos. Em 1993, após a guerra, 1.5 milhões desses refugiados retornaram para sua terra natal, o que não se deu com os portugueses residentes em Moçambique e com os descendentes de portugueses, a grande maioria dos quais jamais voltou.

O resultado desse conflito, assim como das inúmeras sabotagens realizadas pelos portugueses logo após a independência de Moçambique (em 1975), foi que o país sofreu um verdadeiro colapso econômico e social.

Hoje, no entanto, devido à rápida recuperação (ainda que relativa) de Moçambique, ele é considerado por alguns um dos maiores casos de sucesso na África.

Teste seu conhecimento:

O português é, na verdade, a língua materna de apenas 6% da população de Moçambique. Qual das línguas abaixo é também uma das línguas oficiais?

a)     Swahili

b)     Makhuwa

c)     Sena

d)     Nenhuma

Resposta do Post anterior:

A resposta correta era a D. Aqueles dentões enormes da primeira foto são de um hipopótamo, surpreeendentemente um dos animais mais perigosos da áfrica. O segundo crânio, com aquele tamanho todo, só poderia ser de um elefante (e este não é uma versão ciclope de elefante, os olhos, na verdade, ficam na lateral da cabeça), e o terceiro, que parece estar sorrindo, é de um rinoceronte.

Kruger Ruba 158 Kruger Ruba 151 Kruger Ruba 153

Nosso segundo dia de safari começou cedo. Bem cedo! Às 3 da manhã já estávamos acordados e às 4 já estávamos com o pé na estrada a bordo de um caminhão modificado pilotado por um guia local.

Nossa missão era apontar umas lanternas gigantes para todos os lados e avisar se víssemos algum animal, normalmente identificados por pares de olhos amarelos refletindo a luz. Funcionou, conseguimos achar alguns poucos animais, alguns antílopes, elefantes e um gato selvagem africano. Mas a escuridão fez com que as fotos saíssem escuras demais.

Kruger 001 Kruger Ruba 013 Kruger Ruba 008 Kruger Ruba 007

Felizmente, amanhece cedo na savana. E mal havia o sol saído quando começamos a encontrar mais e mais impalas (milhares delas, e inclusive, toda uma horda de filhotes, assustadoramente parecidos com meu cachorro, o Valentino), zebras, babuínos, girafas e elefantes.

Kruger 021 Kruger 028 Kruger 034 Kruger Ruba 022 Kruger Ruba 037 Kruger Ruba 045 Kruger Ruba 058 Kruger Ruba 080 Kruger Ruba 082 Kruger Ruba 086 Kruger Ruba 072Kruger Ruba 092

Os elefantes que vocês veem tão calmamente atravessando a estrada, porém, nos deram um baita susto. Não estes das fotos, que fique claro, mas um grande macho que vinha logo atrás e que não ficou muito satisfeito com a proximidade que estávamos dos filhotes e resolveu partir para cima da gente. Para nossa sorte, nosso guia reconheceu os barulhos de ameaça e pôde acelerar a tempo de nos tirar dali ilesos.

Passamos três horas cheias de Ohs e Ahs e Óóóuuunns e Nhóóóóuuuns enquanto nos deparávamos com mais e mais bichos que fazem parte do nosso imaginário desde criança, mas que nunca havíamos visto em seu elemento, onde devem estar e onde todo o contexto os deixa ainda mais mágicos.

Eu pude colocar à prova todos os anos assistindo documentários de vida selvagem que tenho em meu currículo, e até pude notar algumas coisas antes do nosso guia, como o fato de um grupo de impalas estar todo virado na mesma direção, o que seguramente significaria que havia algum predador por ali. Não deu outra, uma hiena estava por ali, mas parecia mais interessada em achar um lugar para dormir do que em caçar.

Kruger Ruba 075

Os safáris com guias têm suas vantagens. Em primeiro lugar, você não precisa ficar se concentrando na direção e pode simplesmente relaxar e curtir a paisagem. Segundo, há muitas estradas de terra secundárias pelo Kruger Park que não podem ser acessadas por nós, apenas por veículos autorizados. As desvantagens se resumem a ter que acordar cedo, porque, apesar de não ser baratinho, o preço não era tão caro quanto pensávamos que iria ser (uns R$ 70).

Se não tivéssemos pego este safári, no entanto, talvez não tivéssemos tido, depois de um bom tempo ser ver uma zebra sequer, feito uma curva em uma dessas estradas secundárias e dado de cara com as grandes estrelas: três leões machos!

Kruger Ruba 103 Kruger Ruba 101 Kruger Ruba 106 Kruger Ruba 109

Eles não deram muita bola para a gente não, nem pareciam incomodados. Na verdade, pareciam mais incomodados com o calor que estava fazendo e logo se recolheram para uma sombra. Que bicho lindo! Merece o título e a gente até perdoa o ar blasé.

Fomos levados de volta ao Lower Sabie (nosso primeiro acampamento), onde tomamos café da manhã olhando os hipopótamos, ou melhor, olhando as orelhas e focinhos dos hipopótamos, que se recusavam terminantemente a sair da água para que tirássemos uma foto sequer!

Kruger 098 Kruger 088 Kruger 084 Kruger 080

Fizemos as malas e voltamos às estradas em busca do último dos Big Five que ainda não havíamos encontrado. O fato de nós não o termos encontrado, entretanto, não nos tirou a diversão e senso de aventura, e além de mais elefantes, zebras, girafas, warthogs (o Pumba do Rei Leão), de um pequeno antílope que achamos ser o que aparece no guia como Steenbok, uma águia, abutres e impalas…sempre muitas impalas, pudemos chegar muito próximo de um dos maiores e mais belos animais que vimos: o rinoceronte.

Kruger Ruba 159 Kruger Ruba 171 Kruger Ruba 174 Kruger Ruba 187 Kruger Ruba 188 Kruger Ruba 198 Kruger Ruba 202 Kruger Ruba 255 Kruger Ruba 264 Kruger Ruba 277

Na verdade, apesar do tamanho, os rinocerontes são bastante tímidos, e encontrá-los não é assim tão fácil. O que encontramos nos viu e ficou olhando desconfiado. Chegava um pouco mais perto (momento em que nós tínhamos um começo de pânico, já que o bicho é literalmente do tamanho do nosso carro) e se afastava um pouco mais, curioso e receoso. Exatamente como nós nos sentíamos. Quando outros carros chegaram e começaram a apontar suas lentes telescópicas para ele, ele acabou indo embora de vez.

Mas na próxima curva, tivemos uma surpresa! Se estávamos tão felizes de ter visto um rinoceronte ali a uns 40 metros da gente, imaginem a felicidade ao nos depararmos com três outros, dois adultos e um filhote, se refrescando e tirando um cochilo em uma grande poça de água e lama. Ficamos um bom tempo ali admirando os bichos enormes na sua siesta tão tranquila e nos matando de rir dos espirros do filhote! Sim, rinocerontes também espirram…e fazem muito barulho!

Kruger Ruba 236 Kruger Ruba 233 Kruger Ruba 246 Kruger Ruba 240

Kruger 145

Kruger 144

Kruger 105Kruger Ruba 245

Chegamos ao nosso outro acampamento, chamado Petroriuskop, próximo do horário de fechamento dos portões. Não gostamos deste tanto quanto havíamos gostado do Lower Sabie. O staff era menos gentil, o quarto menos confortável que a tenda do anterior, e não havia hipopótamos ou búfalos nos fazendo companhia para o jantar. Mas estávamos tão cansados depois de 14 horas de safári que nem nos importamos tanto assim e capotamos cedo, exaustos e felizes.

Acho que dá para ver a felicidade nas nossas caras, né?

Este foi o último dia da maré de sorte. No próximo post, algumas coisas começam a dar errado. Alguns sustos e perrengues nos aguardam.

Você sabia?

Apesar das nossas referências à animação O Rei Leão da Disney, o desenho não tem nenhuma relação com a África do Sul. O cenário que inspirou a equipe da produção americana é o Quênia, um pouco mais ao norte. Na verdade, a famosa frase Hakuna Matata é uma frase em swahili (uma das línguas oficiais do Quênia) e quer dizer “Sem Problemas”. Por aqui, você pode usar a versão em africaner, geen bekommernisse (que a gente nem sabe se está certa ou como se pronuncia), ou alguma das outras 10 línguas oficiais!

Teste seu conhecimento:

A que animais pertencem os crânios abaixo, respectivamente?

Kruger Ruba 158 Kruger Ruba 151 Kruger Ruba 153

a) Javali africano (warthog), elefante africano e hipopótamo;

b) Javali Africano (warthog), elefante africano e búfalo;

c) Hipopótamo, elefante africano e girafa;

d) Hipopótamo, elefante africano e rinoceronte;

e) Hipopótamos, elefante africano e búfalo.

Resposta do Post Anterior:

Os animais do Big Five que não vimos no primeiro dia foram o leão e o leopardo. Como vocês leram acima, acabamos encontrando leões, mas os leopardos, aqueles safadinhos, escaparam de nós!

Mal havíamos entrado no parque, quase atropelamos nosso primeiro animal! Uma impala atravessou o caminho correndo na nossa frente e quase nos matou de susto. Foi então que percebemos que, ao contrário do que imaginávamos, não existe uma área com uma densidade menor de animais perto das fronteiras do parque. Eles podem estar em qualquer lugar. Poucos quilômetros depois, a visão de impalas já havia se tornado comum, pois elas estavam literalmente por todo canto.Como ainda eram três da tarde e poderíamos chegar ao nosso acampamento, a 34km dali, até 18:30, resolvemos ir devagarinho, já tentando encontrar alguns dos bichos mais interessantes. Mal sabíamos que não teríamos que procurar muito.Em meio a muitas impalas, vimos alguns gnus, uma zebra, alguns kudus e uma linda girafa pastando logo ali ao lado da pista. Claro que a visão de nossa primeira girafa foi a que nos causou mais impacto, como se só naquele momento nos déssemos conta que, sim, estávamos na África!Jo'Burg + 1st day kruger 053Jo'Burg + 1st day kruger 056Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 026Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 024 Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 016Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 015 Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 009Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 004 Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 038Jo'Burg + 1st day kruger 060Assim continuamos e vimos ao longe uma mancha negra que parecia, pelo menos para nossos olhos esperançosos, um rinoceronte. Jamais saberemos com certeza, mas isso não importa, pois ter encontrado um grupo de búfalos já havia feito com que tivéssemos visto dois dos big five, os cinco animais que são aqueles que todos querem ver. Esse grupo acaba sendo usado como uma medida de sucesso do safári. Quanto mais deles a gente vê, mais a gente pode esnobar os outros!Nosso terceiro dos big five nos traria uma certa dor de cabeça!

Imagine que vc de depende se dá conta de que está atrasado e resolve acelerar o passo, pois precisa chegar no acampamento até as 18:30 ou dormirá na estrada, onde estão alguns dos animais mais perigosos do mundo. Todo mundo já passou por algo assim!

Agora imagine que a única estrada está bloqueada. Não é de desesperar qualquer um?

Agora imagine que o que está bloqueando a estrada é isso aqui:

Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 057 Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 056

Ooooooooouuuuuunnnnn! Pode ficar ficar aí, elefantino. Não tem pressa!

Depois de alguns minutos tirando fotos e simplesmente babando no elefante, começamos a ficar preocupados, afinal, teríamos que passar por ali de qualquer forma, e incomodar um bicho que é duas vezes maior que o seu carro não é uma opção.

Ele finalmente saiu da estrada, mas ficou ali do lado, olhando feio para os carros parados. Uma menina que vinha na direção oposta tomou coragem (provavelmente porque estava mais atrasada que a gente) e acelerou o máximo que deu até passar pelo gigantesco paquiderme, que se assustou com o barulho do motor e olho ainda mais feio para nós!

Nesse ponto, nossa maior preocupação deixou de ser chegar atrasado e passou a ser chegar vivo,

Aproveitamos a primeira oportunidade em que ele virou de costas e fizemos o mesmo que a menina havia feito, aceleramos por nossas vidas!!!

Alguns quilômetros depois, outra distração apareceu no meio da pista: uma girafa e seu filhote. Como as girafas transmitem uma calma e elegância ímpar, não tivemos o menor medo dessa vez, e quase nos arriscamos a passar a mão na sua cabeça, que estava tão pertinho da gente (ela estava comendo o mato da beira da estrada). Quase!

Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 077 Jo'Burg + 1st day kruger 088 Jo'Burg + 1st day kruger 068 Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 047

Conseguimos chegar ao acampamento a tempo, e depois de uma cervejinha, uma ceia de Natal composta de um misto de comida americana e indiana e uma garrafa de vinho branco sul-africano à beira do rio, com vista para dois búfalos e uma girafa, fomos dormir antes da meia-noite.

Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 085 Jo'Burg + 1st day kruger 100 Jo'Burg + 1st day kruger 094 Jo'Burg + 1st day kruger 002 Jo'Burg + 1st day kruger 001Jo'Burg + 1st day kruger 005

Até porque tínhamos que acordar às três da manhã para nosso primeiro safári oficial, que começaria às quatro da manhã!

No próximo post, vejam como nos saímos com e sem guia, e um vídeo resumo das nossas peripécias pelo Kruger Park!

Você Sabia?

Mesmo dentro do Kruger Park, há uma grande preocupação dos conservacionistas com relação ao tráfico ilegal de animais. Evidência disto é o fato que os rinocerontes (extremamente ameaçados por causa de seus chifres, que dizem possuir propriedades afrodisícas) não aparecem nos quadros de avistamentos diários. Todos os principais animais têm seus avistamentos registrados em quadros em cada acampamento, para que os turistas possam criar suas rotas de acordo com suas preferências, mas parece que caçadores mal intencionados também fazem uso desses quadros, infelizmente.

Teste seus Conhecimentos:

Quais são os animais do grupo Big Five que não vimos no primeiro dia?

a) Leão e hipopótamo;

b) Hipopótamo e crocodilo;

c) Hipopótamos e leopardo;

d) Leão e crocodilo;

e) Leopardo e leão.

Resposta do Post Anterior:

Acertou quem respondeu que a África do Sul tem 11 Línguas oficiais. Um montão, não?

Tão acostumados com perrengues e imprevistos que somos, a tranquilidade com a qual fomos para o aeroporto foi assustadora. Aparentemente, não havíamos esquecido nada, nosso voo não havia sido cancelado, e até que chegamos com certa folga. A gente só espera continuar nessa maré de sorte!
Mais do que no ano passado, o aeroporto estava uma verdadeira ZONA! Lixo acumulado, crianças gritando e até (pasmem!) jogando futebol no saguão! Guarulhos deu saudades dos aeroportos da Indonésia (e olha que lá era uma bagunça).
Já o aeroporto do lado de cá do Atlântico estava uma tranquilidade, muito em função das reformas para a Copa do Mundo de 2010. O oficial da imigração era uma simpatia só, nosso carro estava esperando pela gente, compramos um GPS (seguindo os conselhos da Jambulile, funcionária da empresa que aluga GPSs e cujo nome usamos para batizar o nosso dispositivo), e até chegamos de primeira na pousada onde iríamos passar a noite (Bob’s Bunkhouse).

Jo'Burg + 1st day kruger 010 Jo'Burg + 1st day kruger 024 Jo'Burg + 1st day Kruger Rubinho 008 Jo'Burg + 1st day kruger 023

Tudo estava dando tão certo que decidimos colocar o juízo de lado e conhecer a noite de Johannesburg, ou Jo’Burg.
Depois de nossa primeira cerveja sul-africana, nos arrumamos, e quando Bob nos viu disse: “Não saiam assim!”. Ele se referia especialmente à pequena (e MARAVILHOSA) câmera que peguei emprestada do meu pai, que gritava: “TURISTA!!!!!!”.

A preocupação e o conselho do Bob são justificáveis. Existe uma grande paranoia em Jo’Burg em relação à segurança, especialmente a dos turistas. Todos com quem conversamos tinha uma lista de recomendações a fazer, ou de recomendações do que não fazer. A atmosfera de medo fica ainda pior com o fato de as lojas de conveniência possuírem uma proteção entre clientes e caixa (os produtos são até passados por uma bandeja parecida com aquelas que às vezes vemos em casas de câmbio).

Na verdade, a impressão que a gente teve é que Jo’Burg não é muito diferente das grandes cidades do Brasil, e nós, brasileiros que somos, chegamos à conclusão que temos que tomar os mesmos cuidados que tomaríamos em São Paulo.

Ainda assim, dá medo! As ruas são extremamente escuras e vazias, e os bairros por onde passamos para chegar em Melville, uma das áreas mais boêmias de Jo’Burg, lembravam bastante o Morumbi, com suas casas gigantes com muros ainda maiores e ZERO iluminação pública.
Mas Jambulile nos levou em segurança até a 7th Street, onde, depois de uma baliza do lado errado feita com perfeição (e sorte), uma série de barzinhos e restaurantes ofereciam seus serviços em uma atmosfera bastante animada, especialmente por se tratar de um domingo.
Quando entramos no barzinho que nos pareceu mais animado, o Six, percebemos que não havia mesas disponíveis, mas o garçom prontamente nos perguntou se nos importaríamos em dividir a mesa com duas pessoas. Nós, sem entender muito bem, dissemos que sim. E não é que nos colocaram em uma mesa onde já estavam duas pessoas mesmo?!?

Eles logo foram embora, afinal já estavam pagando a conta, mas alguns minutos depois, o garçom nos perguntou se nos importaríamos se um “adorável casal” se sentasse em nossa mesa.

Aí foi que entendemos que isso é uma prática comum por aqui. Se não há mesas para todos, por que não dividir com completos estranhos? Isso que seria impensável na (esnobe) capital paulistana, permitiu que conhecêssemos Tomiza (a gente acha, não deu para entender direito) e Guguletho (que por sorte nossa, se apresentou como Gugu).
Jo'Burg + 1st day kruger 016 (2) Jo'Burg + 1st day kruger 015 Jo'Burg + 1st day kruger 012 Jo'Burg + 1st day kruger 021

Os dois foram uns fofos, nos respondendo várias perguntas sobre a cultura e a sociedade da África do Sul (e quem conhece a Carla e eu sabe que nós fazemos muitas perguntas!). Gugu é uma técnica de laboratório que vem de Soweto (uma dos mais famosos subúrbios de Jo’Burg, com uma importante história política e cultural) e fala nada menos do que SETE das línguas oficiais da África do Sul.

Também nos fizeram muitas perguntas sobre o Brasil, e chegamos À conclusão que os dois países são, de fato, muito parecidos.

Na mesa do lado (que não demorou muito para se juntar à nossa mesa) estavam três outros locais, um dos quais era na verdade um apresentador de TV que tem um talk show sobre questões políticas, chamado Eusibius (o careca de óculos que aparece nas fotos acima ainda na mesa ao lado).

Todo mundo bebendo muito (menos eu e a Carla, porque afinal eu iria ter que dirigir do lado errado), comemos camarão e lulas recheadas que estavam deliciosos (e custaram menos d 10 reais por pessoa!!!!), e voltamos sãos e salvos para dormir cedo e acordar de manhã para dirigirmos as cinco horas que nos separavam do Kruger Park.

Parece que nossa maré de sorte continua firme e forte!

Quer dizer, tivemos um pequeno receio. Enquanto conversávamos com Gugu e explicávamos o esboço de roteiro que temos, ela perguntou qual carro estávamos dirigindo. Eu disse: “Um carro muito bonitinho, um Chevrolet Spark azul”. Ela levou as mão as cabeça fazendo uma careta e disso: “Oh não! O vento vai empurrar vocês para fora da estrada!”, o que nos deixou com uma pulga atrás da orelha, até porque, dá uma olhada no tamanho do bichinho!

Jo'Burg + 1st day kruger 016 Jo'Burg + 1st day kruger 014

Na manhã seguinte, depois de muitas outras recomendações de segurança da esposa do Bob, fomos a um shopping Center comprar víveres e outras coisinhas para nossa viagem. Além do pão, queijo e presunto, compramos também um chip de celular daqui. Assim, agora podemos nos sentir verdadeiros cidadãos locais.
Foram umas seis horas de viagem até chegar ao Kruger park , com direito a algumas paisagens muito bonitas, três usinas nucleares e incontáveis áreas de mineração.

Jo'Burg + 1st day kruger 030Jo'Burg + 1st day kruger 033

Até que eu me dei bem dirigindo do lado errado, e a Jambulile (nosso GPS) não falhou nenhuma vez. Na verdade, às vezes até a desligávamos e Carlutcha fornecia as coordenadas!

Mas duas coisas, na verdade, nos impressionaram muito. A primeira, o número de carros quebrados no acostamento. A segunda, a gigantesca quantidade de pessoas pedindo carona na beira da estrada. O curioso é que eles não levantam o polegar para pedir aquela carona amiga, como nós, mas sim o indicador, com o braço levantado acima da cabeça, como quem tem uma dúvida na sala de aula!

Conseguimos chegar ao portão de entrada do Kruger Park às 5 da tarde, e teríamos uma hora e meia para chegarmos ao nosso alojamento, a 34 kilômetros dali, antes que os portões se fechassem. Parecia fácil, mas nem tínhamos ideia dos contratempos que poderiam acontecer em tão pouco tempo!
Mas isso fica para o próximo post!

Você Sabia?

Alguns gestos cotidianos para nós, e vice-versa, podem ter significados muito diferentes em outras culturas. Quando estávamos conversando com Gugu, por exemplo, ela fez um gesto com as mãos que fez com que Carla e eu nos entreolhássemos com curiosidade.
Ela estava descrevendo a passagem pela fronteira da África do Sul para o Zimbábue, e fechou a mão esquerda e bateu com a palma da mão direita aberta na parte de cima da mão esquerda (cobrindo o buraquinho entre o indicador e o polegar) repetidas vezes. Assim, ó:

Jo'burg 002

O gesto, para nós bem familiar, na verdade queria dizer que a estrada estava cheia. Então, não se assuste se algum africano fizer esse gesto quando comentar sobre a sua bebida…ele provavelmente só vai estar querendo dizer que você está bebendo muito devagar, porque seu copo ainda está cheio.

Teste seu Conhecimento:

Gugu falava sete línguas, quantas são as línguas oficiais da Árica do Sul?
a) 9
b) 10
c) 11
d) 15
e) 20

Finalmente: o Laos

Publicado: 18/12/2012 em Laos

Quase um ano se passou desde a viagem para a Ásia. Muito trabalho e muitas mudanças na nossas vidas pessoais que fizeram com que o último post, sobre o Laos, acabasse não sendo feito. Agora, quando o novo período de férias se aproxima novamente, deixem-nos pagar nossa dívida! De quebra, fica o convite para vocês se juntarem a nós mais uma vez a partir da semana que vem 🙂

Quando desbloqueei os cartões de crédito para a viagem pela Ásia, tive que informar a funcionária do atendimento do telebanco sobre os lugares que visitaria. Quando mencionei o Laos, pude ouvir o grande ponto de interrogação. Ela pediu para que eu repetisse e soletrasse, pois nunca tinha ouvido falar desse país. E ela não é a única.

As razões pelas quais sabemos muito pouco sobre o Laos são fáceis: O país esteve fechado em uma ditadura comunista até muito pouco tempo e possui muito pouca projeção econômica internacional. Na verdade, o Laos está entre os países mais pobres do mundo, o que não quer dizer que seja menos interessante que seus vizinhos mais desenvolvidos.

Saímos de Chiang Mai, na Tailândia, em uma van que nos levaria até a fronteira com o Laos, onde pegaríamos um ônibus VIP para a jornada de 12 horas até Luang Prabang, nosso primeiro destino no Laos.

Antes de chegarmos à fronteira, entretanto, ainda fizemos duas paradas rápidas, uma em um local com água termal, onde alguns locais não se incomodavam com o forte cheiro de enxofre e relaxavam com os pezinhos na água quente, e o White Temple, na cidade de Chiang Rai.

Este templo é muito interessante, bem diferente dos outros templos que vimos, onde os tons de vermelho e dourado prevalecem. Tivemos muito pouco tempo para entender os significados intrínsecos àquele templo, mas aparentemente, há uma parte mais baixa, onde estão representações do mundo cheio de sofrimentos, e uma mais alta representando o nirvana. Tudo isso em uma cor branca com detalhes em prateado que, combinados com o reflexo do sol, nos forçaram a colocar óculos escuros.

Chiang Mai 002 Chiang Mai 004 Chiang Mai 008 Chiang Mai 013 Chiang Mai 016 Chiang Mai 024Chiang Mai Carla 018 Chiang Mai Carla 023

Lindo. Em um sentido Joãozinho Trinta, é verdade. Mas lindo mesmo assim.

O que mais nos chamou a atenção, no entanto, foi o banheiro. Ficamos seguindo as placas indicativas, mas não encontrávamos os benditos toaletes. Até nos ligarmos que o prédio anexo, que contrastava com o templo pelo forte dourado, era, na verdade, o banheiro. Quesito alegoria: Nota DEZ!

Chiang Mai 022 Chiang Mai 023

A travessia na fronteira foi tranquila, em um barco que cruzou em menos de dois minutos o poderoso rio Mekong (que neste trecho ainda não é tão grande e poderoso assim). Como aconteceu quando entramos no Camboja, mal pisamos do outro lado, já percebemos que o Laos é muito menos desenvolvido que a vizinha Tailândia.

chiang mai luang prabang Carla 018chiang mai luang prabang Carla 009

Mas nada nos preparou para o que estava por vir: o ônibus VIP!

Não havia espaço para as nossas mochilas no compartimento de bagagem, então um dos funcionários as passou para um gringo pela janela e ele a acomodou no corredor. Tudo bem, vai! Duas malas ali no corredor é algo meio inconveniente, mas não causa muitos problemas.

Mal sabíamos nós que minhas malas seriam apenas duas das muitas coisas no corredor. Sacos de arroz e outros grão e caixas de papelão bloqueavam o caminho do ônibus apinhado de gente, junto com banquinhos de plástico que haviam sido colocados no corredor, criando uma quinta fileira. Foi aí que descobrimos a diferença entre a passagem VIP e a normal: a VIP quer dizer que você tem uma poltrona de fato, enquanto a normal significa que você vai passar as doze horas sentado no banquinho de plástico, sem encosto. Claro que todos os turistas europeus estavam nas nada confortáveis cadeiras, os banquinhos sendo ocupados pelos locais, que não devem ter condição para comprar a passagem mais cara. Olhar para os jovens laosenses sentadinhos nas cadeiras por doze horas deu muito dó, mas isso foi logo substituído por outro sentimento: dó de nós mesmos.

chiang mai luang prabang Carla 027  chiang mai luang prabang Carla 042 chiang mai luang prabang Carla 036 chiang mai luang prabang Carla 033

A temperatura caiu drasticamente durante a noite e Carla e eu, vestidos com roupas de verão, tremíamos de frio. Para completar, o motorista tocou músicas laosenses em um volume muito alto toda a noite. Quando chegamos a Luang Prabang, às 7 da manhã, estávamos esgotados e com muito frio (os locais nos disseram que aquela manhã havia sido a mais fria em muito tempo). Mas não deixamos que isso abatesse nosso ânimo e, depois de um banho e de colocar roupas mais quentinhas, saímos para conhecer a cidadezinha. E Adoramos!

chiang mai luang prabang Carla 019 chiang mai luang prabang Carla 061 chiang mai luang prabang Carla 028 chiang mai luang prabang Carla 011

A cidade está situada em uma península, no encontro de dois rios, e tem uma atmosfera super relaxada e tranquila. O estresse de alguns dos lugares por onde passamos, como Bangkok e Bali, não poderiam estar mais distantes. Tomamos café da manhã em um restaurantezinho francês (o Laos foi uma colônia francesa e isso se evidencia na arquitetura e hábitos alimentares – baguetes e croissants passaram a ser uma visão comum). Passamos todo o dia caminhando às margens do rio e pelas ruas agradáveis, com muitos restaurantes e uma infraestrutura turística bem desenvolvida. E, claro, a maior concentração de monges budistas por metro quadrado que já vimos!

Luang Prabang 012Luang Prabang 010Luang Prabang 025Luang Prabang 021Luang Prabang 028Luang Prabang 035Luang Prabang 050chiang mai luang prabang Carla 007

De lá, pode-se ter encontros com elefantes, mas já havíamos feito isso, fazer trilhas, rafting etc., mas o que nós queríamos era simplesmente relaxar. Por isso fizemos duas sessões de uma hora de massagem laosense (mais suave e relaxante que a tailandesa) e nos inscrevemos em um curso de culinária na manhã seguinte.

Luang Prabang 045Luang Prabang 046

Eu até me aventurei a pegar uma balada em Louang Prabang, seguindo as indicações de um local, mas a Carla, já sentindo o peso de mais de 30 dias viajando em ritmo frenético e da viagem de ônibus VIP, preferiu uma noite longa de sono.

Pela manhã, fomos para nossa aula de culinária. A gente não tinha nem a mais remota ideia do que era a culinária laosense, e, para ser bem sincero, ainda não sabemos muito bem. Mas sabemos que inclui milhares de ervas desconhecidas, pimentas variadas (ainda que menos que na vizinha Tailândia) e muito arroz. Sabemos também que a Carla se empolgou tanto que nos fez rodar metade dos mercados onde passávamos atrás dos equipamentos que ele precisaria para fazer o arroz típico deles (um arroz todo grudado chamado sticky Rice). Quase um ano depois, tenho certeza que tais equipamentos ainda estão sem uso na cozinha dela!

chiang mai luang prabang Carla 053 chiang mai luang prabang Carla 078 (2) chiang mai luang prabang Carla 078 chiang mai luang prabang Carla 083 chiang mai luang prabang Carla 082 chiang mai luang prabang Carla 013

Passamos o resto do dia socializando com outros turistas de várias partes do mundo, trocando experiências, aventuras e emails que nunca mais seriam utilizados, como acontece muito em viagens assim.

À noite, pegamos um outro ônibus para a capital Vientiane, dessa vez com mais conforto, pois num ônibus leito, mas isso não impediu que chegássemos ao nosso destino igualmente cansados.

Vientiane não é uma cidade muito interessante, na verdade, especialmente depois de tudo o que havíamos visto em todos esses dias. Até o poderoso rio Mekong estava bem xoxo por estarmos na estação seca. No  lugar das caudalosas águas que abrigam as maiores espécies de peixes de água doce do mundo, um gigantesco banco de areia. Mas o tamanho do vazio dá uma boa ideia do tamanho que o maior rio do sudeste da Ásia tem na época das cheias.

chiang mai luang prabang Carla 006 chiang mai luang prabang Carla 005 chiang mai luang prabang Carla 021 chiang mai luang prabang Carla 031

O lugar mais interessante que visitamos foi o Buddha Park, um jardim de esculturas bastante excêntricas a poucos quilômetros dali. Estátuas de temas hindus e budistas, algumas lindas, outras simplesmente bizarras, pontuam um gramado por puro capricho de um religioso que misturava as duas religiões. Apesar de elas parecerem super antigas, as estátuas de concreto datam de 1958, e não de séculos atrás, como um turista desavisado poderia achar. As que mais chamam a atenção, sem dúvida, são uma enorme estátua de um Buda inclinado e uma escultura que parece uma grande abóbora com três níveis, representando o inferno, a terra e o céu, com entrada pela boca de três metros de um demônio!

laos paris 049  laos paris 046 laos paris 026 laos paris 025 laos paris 010 chiang mai luang prabang Carla 050 chiang mai luang prabang Carla 040 chiang mai luang prabang Carla 045 chiang mai luang prabang Carla 039 chiang mai luang prabang Carla 028 (2)

Pegamos então um trem para a Bangkok, onde pegaríamos o avião para nos despedirmos de vez da Ásia.

chiang mai luang prabang Carla 075laos paris 072

Esgotados, desidratados, e com muita saudade de queijo, embarcamos. Além das malas muito mais pesadas do que na vinda, levamos todos na nossa bagagem emocional uma experiência fantástica. Muitos dias, muitos estresses, muitos deslumbramentos e, acima de tudo, a certeza que existem muitas coisas por esse mundo que são absolutamente diferentes do que estamos acostumados…não melhores, não piores, apenas únicas.

E aproveitadas junto a uma turma fantástica.

Se eu pudesse resumir a viagem em 8 minutos, teríamos algo mais ou menos assim:

 

Agora, quase um ano depois, Carla e eu nos preparamos para uma nova aventura: África do Sul, Moçambique e, se der tempo, Suazilândia (hein?). Vamos checar se tudo o que a Laura e a Yara falaram é verdade e explorar ainda mais.

Ao contrário das experiências anteriores, vamos sem muito planejamento. Temos apenas um carro alugado, as passagens de ida e volta e lugar para dormir no parque onde vamos fazer safári. Essa, sem dúvida, vai fazer jus ao conceito de aventura!

Embarcamos sábado que vem. Venham com a gente!

Quando Carla e eu entramos naquele voo saindo de Kuala Lumpur para Chiang Mai, no norte da Tailândia, não tínhamos muita ideia do que esperar. O que encontramos? Um dos melhores dias de nossas vidas!

Chiang Mai faz parte do circuito dos mochileiros há um tempo, não como um destino de festa como Phuket, mas como um centro de ecoturismo e um ponto mais tranquilo.

No nosso primeiro dia, alugamos bicicletas para dar uma volta pela cidade e conhecer os templos. Havia muitas opções ali do lado de nossa acomodação (Queen Victoria guest house, no andar de cima de um restaurante), e conseguimos encontrar umas bicicletas bem velhas, super divertidas.

Chiang Mai 080Chiang Mai Carla 002

Visitamos alguns templos, mas notamos que, a essa altura do campeonato, já estávamos um pouco cansados de todo o ritual de cobrir as pernas e os ombros, tirar os sapatos e ajoelhar na frente de uma imagem que, apesar de toda a admiração que passamos a ter pelo budismo (eu levei um livro que explica tudo, então entravamos nos templos e meio que sabíamos o que estava rolando ali), não era a nossa religião. Mas eles são lindos, de qualquer forma.

Chiang Mai 015Chiang Mai 019Chiang Mai Carla 048Chiang Mai Carla 023Chiang Mai Carla 007Chiang Mai 046Chiang Mai 076Chiang Mai 072Chiang Mai Carla 049Chiang Mai Carla 055Chiang Mai 065

Um templo, no entanto, foi diferente dos demais. Nos templos de Chiang Mai, diferentemente dos de Bangkok, é comum haver estátuas dos monges importantes. Neste templo, em meio às estatuas, havia um monge meditando.

Chiang Mai 040

Nós ficamos admirados com a concentração dele diante das pessoas que tiravam fotos e faziam reverencia a ele, que não movia um músculo, mas ficava de olhos abertos, num nível de meditação tão profundo. Admirável!

A Carla, curiosa que é, resolveu perguntar a outra turista quem ele era, e recebeu a seguinte resposta: "ele é um monge que está morto há três anos!

Chiang Mai 044

Opa! Como assim?!? O cara está ali, em posição de meditação, morto há três anos!!!!! E sem sinal nenhum de decomposição!!!!! Isso sim é admirável!!!!

Depois descobrimos que, na verdade, o monge não era um monge, mas uma estátua em fibra de vidro que é tão realista que faz as peças do museu de cera de Madame Tussauds parecer trabalhos de quarta série!

Chiang Mai Carla 043

Chiang Mai é uma cidade muito aprazível, gostosa de passar o dia de bicicleta, mas queríamos emoções mais fortes. Dentre as muitas opções de passeios que há (arvorismo, cachoeiras etc.), escolhemos passar o dia num abrigo de elefantes! Melhor decisão das nossas vidas!!!!

Fomos para o Woody Elephant Training, um lugar recomendado pelo agente de turismo pelo fato de que lá os elefantes são realmente bem tratados (há diversos "santuários" de elefantes e tigre na Tailândia que recebem muitas denúncias de maus tratos contra os animais.

Eles viram nos pegar no hotel às 8 e meia da manhã. Com mais uns doze gringos de todas a partes do mundo, escutamos do Woody as razões pelas quais ele tem esse abrigo: dinheiro. É que os elefantes comem 300kg de comida por dia (!?!?!?) e sem as visitas dos turistas, ele talvez não conseguisse manter os 9 elefantes que ele possui (provavelmente nem o iPhone que ele tem).

Os elefantes são normalmente comprados de circos e madeireiras (que os usam para derrubar árvores), onde normalmente são submetidos a alguma forma de maus tratos e trabalho excessivo. A reintrodução dos elegantes na natureza é praticamente impossível, seja pela falta de habitat natural, seja pelo fato de eles estarem já muito acostumados com os seres humanos, então a interação com os turistas acaba sendo uma das melhores opções para os bichinhos.

Nosso dia com os elefantes incluiu alimentá-los, recolher as gigantescas bolotas de fezes, banho, uma nadada em um lago e lições básicas de como "pilotar" os elefantes.

Chiang Mai Carla 007 (2)Chiang Mai Carla 009 (2)

Em algumas fotos e vídeos, Vocês verão que usamos ganchos que parecem assustadores, mas garantimos a vocês que eles não são afiados e são usados apenas para tocar pontos específicos da cabeçorra dos paquidermes, pontos esses que são associados aos comandos.

Chiang Mai Carla 038 (2)Chiang Mai Carla 018 (2)Chiang Mai Carla 021 (2)Chiang Mai Carla 062 (2)Chiang Mai Carla 068 (2)Chiang Mai Carla 103Chiang Mai Carla 075Chiang Mai Carla 077Chiang Mai Carla 100Chiang Mai Carla 119Chiang Mai Carla 158Chiang Mai 036 (2)Chiang Mai 111Chiang Mai 140Chiang Mai 171elefante2

Carla e eu, provavelmente diante de nossa exemplar performance na fase de treinamento, ficamos incumbidos de lidar com a Baifan, que além de ser a maior de todas as elefantas, estava grávida de uns 20 meses!

Chiang Mai Carla 189Chiang Mai Carla 195Chiang Mai Carla 196elefanteChiang Mai Carla 183IMG_5913_resizeIMG_5942_resizeIMG_5989_resize

IMG_5984_resizeIMG_5964_resize

Interagir com esses magníficos, gigantescos e extremamente dóceis animais foi uma experiência sem precedentes, um sonho de infância que se concretizou. Acho que os sorrisos nas fotos dizem tudo, não é?

Depois de tanta emoção, arrumamos as malas para a parte de nossa viagem com mais aventuras e menos infraestrutura. No próximo post: bem vindos ao Laos!

Você Sabia?

Os elefantes machos, mesmo os dóceis elefantes domesticados, estão sujeitos a uma condição chamada Musth, em que a quantidade de testosterona atinge níveis 60 vezes maiores do que o normal, o que resulta em um comportamento extremamente agressivo. Os cientistas não sabem muito bem quais as razões pelas quais isso acontece, mas aparentemente há alguma relação com dominação. Nessa fase, os elefantes tornam-se violentos, frequentemente atacando outros elefantes, tratadores ou qualquer um que passe pela sua frente. Em alguns lugares, os criadores amarram os elefantes a árvores e restringem grandemente a quantidade de alimento, o que aparentemente reduz os efeitos e a duração desta condição. No centro de treinamentos que visitamos, havia um elefante que havia escapado e destruído uma fazenda vizinha no dia anterior, possivelmente por efeito do Musth, já que ele normalmente se dá no inverno (época em que estávamos lá).

Teste Seu Conhecimento:

Qual o período de gestação de um elefante?

a) 16 meses;

b) 20 meses;

c) 22 meses;

d) 24 meses.

Resposta do Post Anterior:

A estrela na bandeira da Malásia tem 14 pontas porque o país é dividido em 14 "estados", doze dos quais (Kuala Lumpur é um deles) estão na pare continental do país, sendo que a grande área da ilha de Bornéu pertencente à Malásia e dividida em apenas duas áreas administrativas e é bem menos desenvolvida, tornando-se um grande destino para quem procura um contato com a natureza.