Kuala Lumpur é um lugar que nunca recebe muita atenção dos guias e dos mochileiros, acabando sendo meramente um ponto de conexão de voos. O que nos encontramos por lá, entretanto, foi uma grata surpresa.
Como vocês sabem, nossa partida de Gili foi um tanto atribulada, com cancelamentos de barcos, atraso de voo e muita correria no aeroporto. Paramos nossa narrativa no momento em que Carla corria pelo aeroporto de Bali para tentar segurar o nosso check-in, enquanto eu também corria, manobrando o carrinho com nossos quase 60 kilos de bagagem e gritando bip-bip para que as pessoas saíssem da frente.
Deu certo. Carla teve que quase chorar para que os funcionários da AirAsia esperassem que eu chegasse com as malas, mas eles autorizaram nosso embarque com a condição de que a gente corresse, literalmente, para o portão de embarque. Assim, furamos as filas do raio-x e da imigração, e fomos surpreendidos ao sermos informados que tínhamos que pagar a taxa de embarque (odeio aeroportos/países que não incluem as taxas na passagem!), sendo que não tínhamos nada de rúpias indonésias.
Felizmente, a taxa pode ser paga em dólares, e às 17:02 estávamos decolando neste que, por ironia, foi o único voo que saiu no horário de todos os que havíamos pegado até ali.
Imaginem nosso cansaço, então, ao chegarmos à capital da Malásia e ainda descobrirmos que estávamos no aeroporto exclusivos das empresas de baixo custo, tendo que pegar um ônibus até o aeroporto principal, de onde tomaríamos o trem para o centro da cidade (a 73km dali). O preço do trem não é muito barato, e chegamos à conclusão que a exaustão justificava perfeitamente a diferença para o preço do taxi.
Nossa primeira surpresa agradável foi o albergue, o Reggae Mansion. O nome parece bastante duvidoso, mas o albergue é exemplar, numa casa colonial restaurada com tudo brilhando de novo, sala de cinema, limpeza impecável, TV de LCD no quarto que pode ser usada como monitor do computador também incluído, e, o melhor de tudo, um bar no terraço do ultimo andar com vista para as Petronas Towers. Coisas que a gente está acostumado a ver em hotéis quatro estrelas, não em albergues. Recomendadíssimo!
Como estávamos muito cansados, resolvemos nos contentar com jantar em uma área de restaurantes chineses (com comida excelente, aliás) ali por perto, na rua Jalan Alor, tomar uns drinquezinhos no bar do albergue e nanar, pois havíamos agendado um city tour para as 10 da matina.
Nossa primeira parada no rolê de vanzinha cheia de gringos, em um tour chamado “The 7 Wonders of Kuala Lumpur”, foi um templo budista chamado Thean Hou, que é o templo onde os casamentos da grande população chinesa de KL (como Kuala Lumpur é conhecida) é tradicionalmente realizado. Na verdade, até flagramos vários casais que estavam se casando ali naquele momento (sem cerimônia, aparentemente – só amigos e patentes próximos tirando fotos e testemunhando o registro).
Como no final de janeiro acontece o ano novo chinês, o templo estava sendo decorado para as festividades, e nós de quebra tiramos fotos com esculturas de gosto duvidoso de nossos signos chineses. Eu descobri que, enquanto a Carla, que é coelho, é cautelosa, afortunada e engenhosa, eu, que sou macaco, sou fascinante, inteligente e confiante. Descubra qual o seu signo e o que isso quer dizer aqui.
Segunda parada: Little India, um pedaço de rua com muitas lojas indianas (onde compramos imagens de Ganesha) na qual tivemos menos tempo do que queríamos para xeretar, mas tudo bem!
Parada número três foi Merdeka Square, ou praça da liberdade, o local onde a bandeira do Reino Unido foi baixada e a bandeira da Malásia independente foi hasteada pela primeira vez. Até hoje, uma bandeira tremula em um mastro gigantesco nesta praça que costumava ser o campo de críquete da aristocracia colonial inglesa.
Ao redor da praça, estão prédios importantes para a história de KL e um mini-museu, chamado Kuala Lumpur City Gallery, que conta um pouco da história da Malásia e de KL, que, na verdade não é muito diferente da história de Singapura: colônia inglesa com uma grande mistura de malaios muçulmanos, chineses budistas e indianos hindus. Ao contrário da cidade-estado, no entanto, não existe em KL uma obsessão pela ordem e limpeza, e a cidade parece mais autêntica, menos Disney World, mas com muito mais problemas, como o trânsito.
Quarto destino: Mesquita de Negara, a maior mesquita da Malásia, com capacidade para 15.000 pessoas. Há um salão principal, onde ficam os homens, e um mezanino para as mulheres (que não têm obrigação de frequentar a mesquita e muitas vezes usam essas horas em que os maridos rezam para o hobby favorito da maioria das mulheres: compras – palavras do nosso guia muçulmano).
Lá, tivemos uma explicação rápida sobre como o islamismo não é assim tão diferente do judaísmo e cristianismo (até uma árvore genealógica que liga Moisés, Jesus e Maomé nos foi dada). Mas o que a gente mais gostou foi das roupas que nos foram dadas para podermos entrar. A Carla virou a própria árabe muçulmana e parecia estar em casa. Eu, no entanto, fiquei parecendo mais um figurante de algum filme do Harry Potter.
Número cinco: o palácio real. Não tem muito o que dizer, só que ele é um edifício recente e que a bandeira amarela hasteada significa que o rei estava em casa. Ah! Também vimos a troca dos guardas (que como os ingleses, também ficam imóveis), mas tudo muito prático e simples (apenas quatro guardas envolvidos).
Parada 6: um monumento aos soldados malaios mortos nas grandes guerras deste século, que, talvez por ter sido desenhado por um americano, retrata os soldados de forma que eles parecem, na verdade, mais brancos que malaios. O fato de bandeira malaia também conter listras vermelhas e brancas faz com que tudo pareça mais algum monumento em Washington do que KL, mas quem somos nós para julgar.
Depois de tanta coisa, merecíamos uma paradinha para comer, e esta se deu na Malay Village, uma área onde as casas são tombadas e mantidas com o tradicional estilo malaio (de madeira e elevadas em relação ao solo). Resolvemos pedir o prato mais típico de lá, o Rendang, uma carne gostosa que queimou nossa boca e fez lágrimas subirem aos olhos, apesar de eles terem prometido que não era picante. Para sobremesa, resolvemos experimentar um doce de arroz dobrado em folhas que estavam no centro da mesa, outra iguaria tradicional cujo preparo leva dois dias. Ao provarmos, entendemos o porquê dessa demora. É que dois dias é o tempo que o arroz demora para fermentar dentro do envelope de folhas. Gosto de podre! Decidimos, assim, que o jantar seria mais uma vez na rua das barraquinhas chinesas.
A ultima e melhor parada foi o templo conhecido como Batu Caves. Este templo hindu era o que mais esperávamos ver, e uma das maiores atrações de KL. Construído em 1890 dentro de uma caverna, acessível por uma escadaria de 272 degraus, o templo é guardado por uma colossal estátua de Murugan, com 42.7 metros de altura, e um exército de macacos que adoram roubar coisas dos turistas.
O visual e o caráter inusitado não nos decepcionou em nada.
Quando voltamos ao albergue, a Fabiana, minha grandessíssima amiga que mora em KL e que eu não via há 8 anos estava recebendo um tour pelo albergue. Nós três nos sentamos em um bar vazio em algum lugar da cidade e ficamos batendo um papo delicioso sobre nossas impressões da Ásia, como é viver em KL, como andam as coisas no Brasil etc etc etc., além de colocarmos toda a fofoca de tanto tempo em dia. O papo estava tão gostoso que nem a Carla, que nunca tinha visto a Fabi na vida, ficou deslocada. Como é bom saber que o tempo e a distância têm pouco poder quando há uma amizade e carinho verdadeiros!
A fome uma hora bateu, e acabamos voltando à rua onde tínhamos jantado na noite anterior e continuamos a conversa por mais algumas horas, dessa vez com carne de porco assada, e quando chegou a hora da Fabi ir ciceronear os sogros, caminhamos com ela até a estação de metrô, literalmente ao lado das torres Petronas, onde dissemos um até logo esperando que a próxima não demore tanto.
Carla e eu ficamos admirando as Torres mais um pouco. Tendo sido por anos os prédios mais altos do mundo, a elegância das formas inspiradas das Petronas (pronuncia-se Petronás, como a Petrobrás, e são a sede da estatal petrolífera de lá) na cultura islâmica são realmente admiráveis.
Mas não pudemos ficar babando muito tempo, pois já passava da meia-noite e nosso transporte para o aeroporto chegaria às quatro. Claro que ainda tínhamos que fazer as malas, tomar banho etc. Mas quem precisa dormir quando está de ferias?
Você Sabia?
A Malásia tem um rei, mas seu cargo não é vitalício. Existem no país 9 sultões que se revezam no cargo de rei a cada 5 anos. Assim, a cada 5 anos, o rei da Malásia muda e há uma lista de sucessão para garantir que cada sultão tenha a sua vez a cada 45 anos. O rei atual, Abdul Halim de Kedah, tem mais de oitenta anos e está cumprindo seu segundo mandato real, fato raro, pois se o sultão morre antes ou durante sua chance, seu filho vai para o final da fila. E eu que achava nosso sistema político confuso!
Teste Seu Conhecimento:
Por que a estrela na bandeira da Malásia tem 14 pontas?
a) porque a estrela islâmica tem 14 pontas;
b) porque a Malásia é constituída por 14 estados;
c) Porque a independência da Malásia se deu no dia 14;
d) porque o primeiro rei da Malásia era muito supersticioso e achava que o número 14 traz sorte.
Resposta do Post Anterior:
A Indonésia é o quarto país mais populoso do mundo, com mais de 230 milhões de habitantes. Mais gente num mesmo país, só na China, Índia e Estados Unidos.